quarta-feira, dezembro 22, 2010

Fotojornalismo: O ato fotográfico

Como segurar a camera:

Para muitos, pode ser uma recomendação óbvia mas, vale lembrar que é muito importante saber segurar a câmera bem firme quando estiver fotografando para evitar fotos tremidas ou borradas. Isso é muito comum especialmente quando se fotografa em situações de pouca luminosidade quando o obturador ou o tempo de exposição é muito longo. Fotos tremidas também podem ocorrer quando se “estica” a zoom para teleobjetiva.
Devemos começar por separar ligeiramente as pernas, e para garantir a segurança da câmera, dar uma volta com a correia da câmera (caso haja) em volta do braço. Em seguida, segurar a câmera com as duas mãos, a direita deve segurar a parte direita da máquina, o dedo indicador deve estar posicionado sobre o disparador, o polegar deve agarrar a parte de trás da máquina e os restantes três dedos devem envolver a zona frontal da mesma. A mão esquerda deve suportar o peso da máquina, ou seja, apoiar a câmara por baixo e controlar as regulagens da objetiva.
Encoste os braços e cotovelos dobrados junto do seu corpo, prenda a respiração e aperte o disparador suavemente para minimizar a vibração.


Para poder utilizar velocidades muito baixas de obturador (tempos longos) e evitar oscilações da câmera, o fotógrafo deverá usar um apoio firme para a mesma. Em situações como esta, terá de usar um tripé, caso não tenha um à mão é necessário encontrar um local firme para apoiar a câmera (mesa, muro, etc.).
Se a câmera for amadora e dispõe (ou não) de um visor muito pequeno e você tiver que usar o visor em LCD, segure a câmera bem firme com as duas mãos, mantendo os cotovelos apoiados sobre o corpo. Desta forma, evita-se que as fotos saiam tremidas em condições de pouca luz ou quando se usa a teleobjetiva.

Ângulo de tomada:
A câmara pode ser situada tanto na mesma altura do sujeito, como também abaixo ou acima dele. Ao fotografarmos com a máquina de "cima para baixo” (mergulho), ou de "baixo para cima" (contra-mergulho) temos que nos preocupar com a impressão subjetiva causada por esta visão.

Ângulo normal (altura do fotógrafo) - Foto Thomas Hoepker - 11 de setembro - NY


Ângulo inferior - Foto: Bazuki Muhammad - Arábia Saudita, 2002 – Peregrinação Islâmica a Meca: 
O fotógrafo fez esta imagem com objetiva grande angular,  o que acentuou a perspectiva.

A câmera na posição de cima para baixo tende a diminuir o sujeito em relação ao espectador, desvalorizando o motivo fotografado, e pode significar derrota, opressão, submissão, fraqueza do sujeito; enquanto que de baixo para cima pode ressaltar sua grandeza, sua força, seu domínio. Evidentemente estas colocações vão depender do contexto em que forem usadas.

Ângulo Superior - Foto: Arko Datta - India - Prêmio WorldPress - 2005 


Quando o assunto é interessante e pode dar uma boa foto, tirar várias fotos com ângulos de tomada diferentes.

Enquadramento:
É o espaço que a imagem ocupa no visor da câmera. A regra é manter objetos que acrescentem a imagem e remover, através do corte no visor, qualquer coisa que distraia a atenção do centro de interesse. Esse procedimento é feito movendo-se a câmera de um lado para o outro; usando os recursos da objetiva zoom; aproximando-se ou recuando do assunto. Lembrando as palavras do grande fotógrafo Robert Capa que disse: “Se suas fotografias não são boas o suficiente, você não se aproximou o suficiente”.
Quando o enquadramento for de pessoas ou animais, evite o “corte” nas juntas (tornozelo, joelho e cotovelos). Se o corte for nas juntas, da a impressão de que o assunto perdeu partes do corpo.
Existem dois tipos de enquadramentos:
- horizontal: o mais usado pela amplitude que da ao assunto fotografado.
- vertical: ideal para assuntos altos (edifícios, árvores, etc.), e retrato de uma única pessoa.

Foto: Eric Gaillard - frança – 2009: Enquadramento horizontal


Jed Jacobson - usa – 2009: Enquadramento vertical

Aproxime-se do assunto:
No enquadramento evite espaços inúteis na fotografia aproximando-se do assunto. Caminhe em direção do mesmo ou use o recurso da objetiva zoom. Seu objetivo é preencher a área de imagem com o assunto que você está fotografando.
Existe a possibilidade de se efetuar um reenquadramento no Photoshop, depois da imagem pronta, eliminando espaços inúteis, mas, dependendo do tamanho do corte, a fotografia pode perder qualidade.

Procure por detalhes:
O fotógrafo amador tem por hábito fotografar um determinado objeto por inteiro, mas, em algumas situações, o impacto visual pode estar no detalhe.


Foto: Patrick Farrel - Terremoto no Haiti - 2010: A força visual no detalhe

Posicionando a linha do horizonte:
A linha do horizonte que fica bem evidente em paisagens com ângulos abertos como na praia ou campo, nunca deve ser fotografada posicionando-a no meio do enquadramento, o que faz a foto parecer monótona, inexpressiva e transmitindo a idéia que a mesma está dividida ao meio.


Foto inexpressiva, sem um centro de interesse e com
 a linha do horizonte dividindo-a ao meio

Em fotografia de paisagens deve-se observar o que é interessante enfatizar, o céu ou o chão, qualquer que seja, deverá ocupar 2/3 de área da foto.
Por exemplo, se em uma praia tivessem belos reflexos na água, claro que a área do chão tomaria 2/3 da foto, colocando a linha do horizonte no terço superior da foto.
O fotógrafo necessita de vigiar bem a linha do horizonte quando estiver fazendo o enquadramento da foto, especialmente em locais abertos, como foto em uma praia, é que, não raras vezes uma brilhante composição fica arruinada devido à inclinação do horizonte, a menos que se queira exprimir algo insólito. Nessa situação, manter a câmera firme e alinhada.


Ênfase no céu, ocupando 2/3 da foto: Linha do horizonte posicionada corretamente

O centro de interesse:
Muitas vezes uma imagem perde em intensidade não porque lhe faltam elementos, mas sim porque há elementos sobrando. O fotógrafo deve, deste modo, privilegiar sempre uma zona da imagem que funcione claramente como foco de atenção, e que deve ser, obviamente, o motivo principal, é o que chamamos de centro de interesse da fotografia.
Uma fotografia sem um centro dominante de interesse ou com mais do que um, se torna confusa para quem vai observá-la e, se pergunta sobre qual assunto ela se trata. Quando a foto tem um, e somente um, ponto de interesse dominante, o observador entende rapidamente a foto.
O tema específico, idéia ou assunto a ser fotografado deve ser analisado na mente do fotógrafo quando se prepara para tirar a foto. O centro de interesse pode ser um simples objeto ou vários arranjados de tal forma que a atenção seja dirigida para uma definida área da imagem.


Foto: Luiz Vasconcelos - Manaus-2008- Prêmio World Press Photo
Na zona rural de Manaus, polícia de choque desocupa propriedade

 privada invadida por índios. O centro de interesse da foto está bem 

evidente na índia enfrentando os policiais.

É importante haver uma relação (associação) entre o centro de interesse e outras áreas da imagem para se passar uma mensagem ou informação do fato com mais precisão. Como no exemplo da foto acima: se a mulher tivesse sido fotografada isolada não teria tanta força de informação.
Em algumas situações o centro de interesse pode, através do detalhe, no primeiro plano, preencher todo o enquadramento da câmera valorizando-o e
causando um impacto visual bem maior.


Foto: Celso Luiz - Santo André – Agosto/2009: Foto que ilustrou matéria de
 capa do jornal Diário do Grande ABC no dia em que entrou em vigor a lei 
anti fumo em locais públicos. O centro de interesse da imagem em close 
no primeiro plano. O segundo plano, mesmo desfocado, está associado com o 
centro de interesse e passa a informação do local (público) onde foi feita a foto.

A simplicidade da imagem:
A velha expressão: menos e mais, cabe bem aqui. O fotógrafo tem que estar atento a todos os elementos que fazem parte de uma cena, evitando aqueles que poderiam interferir ou distrair a atenção do assunto principal.
Simplicidade é a condição primordial que denota beleza, limpidez e clareza da imagem.
Portanto, você pode simplificar suas fotos e reforçar o centro de interesse selecionando fundos simples, evitando assuntos não-relacionados com o assunto principal e chegando mais perto. Se você quer fazer o centro de interesse um pouco mais dinâmico, desloque-o ligeiramente fora do centro.


Foto: Peter Parks - violência étnica na China - 2009

Fotografe a ação:
Uma das características do fotojornalismo é mostrar ação nos fatos que estão sendo fotografados. Deve haver um elemento de ação ou movimento em cada foto: alguma coisa deve estar acontecendo.


Foto: Reinhard Krause - Palestina - 2004

Fotografe pessoas:
Fotojornalismo é uma documentação visual clara e objetiva do que está ocorrendo ao nosso redor. Nada ilustra melhor esse fato do que pessoas fazendo as coisas que elas fazem. O fotógrafo deve ter a habilidade de entender as pessoas e o talento para retratar suas personalidades e emoções. Essencialmente são as pessoas, seus medos, decepções e triunfos que fazem boas fotos.

Foto: Phil Noble - Fátima - 2009

Fotografe a emoção:
Emoção é um ingrediente de essencial importância ao fotografar. O observador (leitor) está mais suscetível para absorver imagens quando elementos emocionais são introduzidos em seu conteúdo. Uma fotografia que tenha emoção em seu conteúdo quer seja alegria, tristeza, etc., maximiza seu impacto, chama mais a atenção e causa uma forte reação no observador.
Dominar toda a técnica de fotografia como, obturador, diafragma, enquadramento, etc. fará com que o fotógrafo realize uma boa fotografia do “momento”, mas inexpressiva em seu conteúdo se ele não tiver a habilidade de observar, entender e capturar a emoção dos outros.
“Fotografe com o coração”, é a recomendação dos grandes mestres do fotojornalismo aos iniciantes nessa profissão.

Bill Kostroun - US Open - NY - 2004